FOGO LENTO
pesquisa artística transdisciplinar
Molde
AUTORETRATO ou O desenho de uma mortalha
de Aniceto
Sobre a Religião
Ao longo dos tempos,
seres humanos
isolaram-se em locais belos,
e tentaram tocar em Deus.
E cada grupo,
pensou Deus a seu modo.
Mas todos eles o fizeram da única forma possível,
REZANDO.
E tendo de sobreviver, trabalharam.
E para o fazer, estudaram.
E como os seres humanos em grupo só se entendem obedecendo,
criaram uma REGRA.
e julgo que me apetece fazer o mesmo.
Aqui fica portanto o esboço de uma REGRA
e que, à semelhança de todas as outras regras,
será um dia destruída.
Sobre os Sentidos
A criança tem 2 anos e 11 meses.
A criança viu uma rosa em botão,
e chama, meninos, meninos !
mas os meninos estão longe,
a fazer aquilo que só os meninos sabem fazer
brincar.
A criança não desiste,
sobe as escadas,
e, não se sabe como,
trouxe os meninos atrás de si,
e foram todos ver a rosa em botão.
O que viram?
Nunca o saberemos !
Sobre o BELO
O general elaborou uma estratégia superior,
treinou os seus exércitos para executar manobras com eficácia.
E destruiu o exército inimigo.
E sobrevivemos.
O agricultor,
trabalhou e pensou,
e, sendo prudente,
trabalhou e pensou,
produziu o bastante e enfrentou a Adversidade.
E sobrevivemos.
Ao longo dos tempos o ser humano percebeu que a SOBREVIVÊNCIA está no Bem Feito
E o Bem Feito transformou-se em BELO
E se tivermos alma educada pela dôr,
veremos isso à nossa volta e nos locais mais inesperados,
o jogador de futebol que aldraba o árbito e mete a bola na baliza com a mão
e no lance seguinte sentou a equipa adversária no chão e marcou na mesma.
Nunca encontrei o BELO nos locais convencionais
é como ir ao Vaticano para encontrar Jesus o Nazareno.
Não está, nunca esteve e nunca lá se encontrará.
e é comovente a sensação de tudo isto.
Sobre a Riqueza
A conta bancária atingiu um valor próximo de 350.000 €.
Acontece que isso não é riqueza.
Papéis passados pelo sistema bancário planetário, dirigido por gente extraordinariamente capaz,
que na primeira oportunidade organizará as coisas a seu modo e apropriar-se-á do trabalho de quem trabalha.
Isso feito ao longo dos tempos, faz-se, e enquanto o Ser Humano for o que é, continuará fazendo-se.
Sem que a educadora se apercebesse, a criança escapou-se da sala grande do infantário, o antigo estábulo.
Passou pela cozinha onde muita gente se atarefava a preparar refeições.
Subiu ao piso superior onde a avó dançava.
Continuou por um corredor e deu com uma sala esquisita onde se gravava música, e reconheceu o avô
que estava de costas,
encontrou gente a falar línguas estranhas, e pareciam morar na casa.
Noutra sala alguém escrevia gatafunhos esquisitos, toda agente parecia estar concentrada,
e falava-se na conjetura de Riemann.
Desceu por uma escada e viu oficinas onde se trabalhava madeira, ferro e cerâmica.
Noutra sala faziam-se experiências com correntes eléctricas e retortas com produtos químicos.
Saiu para o exterior e, entre o colorido das flores, havia gente que lia e conversava sobre o episódio do grande inquisidor de Dostoievsky.
Deu consigo a olhar para uma árvore muito bela que tinha crescido sobre as cinzas do seu bisavô.
Por momentos lembrou-se das horas felizes em que iam ver comboios. Sorriu.
Reentrou no infantário onde a educadora lhe disse que o seu filho tinha desaparecido. Sorriu.
A criança percebeu que vivemos cercados por um muro.
... e se isto acontecer
esses papéis do sistema bancário planetário, dirigido por seres humanos
que de tão humanos, vivem paredes meias com o crime,
ter-se-ão transformado em RIQUEZA.
Sobre o Tempo
Ao longo dos tempos
seres humanos
viram rosas em botão.
Tocaram em Deus.
E depois de Ver
disseram,
e foram destruídos.
Mas eu vi !
e do que vi,
darei testemunho.